Jukebox entrevista: Lubeka

Jukebox 800
6 min readOct 9, 2021

Iniciando sua carreira musical, o artista goiano Lubeka lançou na última sexta (08) o seu EP de estreia: “Intenso”. Com sete faixas que vão do R&B ao hip-hop, o trabalho é uma trajetória de empoderamento e auto aceitação.

Créditos: Eduardo Orelha.

Lubeka sempre teve um pézinho na música. Durante sua infância, performava canções religiosas dentro da igreja e também gostava de ler blogs sobre música, mas devido à repressão do ambiente religioso, acabou desistindo da carreira de cantor. Felizmente, com mais idade e auto aceitação, motivado por seu marido, decidiu embarcar mais uma vez nesse velho sonho e investir no seu talento nato. No início, ele não se via cantando nada que não fosse religioso, mas, no processo de compor, descobriu que poderia usar sua trajetória de vida como inspiração. E assim o fez.

Apaixonado por divas pop como Mariah Carey e Christina Aguilera, Lubeka morou em Lisboa desde os seus 14 anos e hoje está radicalizado nos EUA, onde mora com seu marido. Ele afirma que a experiência foi uma grande oportunidade de enriquecimento cultural, principalmente relacionado ao processo de se entender como um artista, resultado do período em que residiu em Los Angeles, capital do entretenimento. Justamente por toda essa internacionalização, o goiano decidiu retornar para o Brasil, buscando se reconectar com sua terra natal, em Anápolis (GO).

Seu primeiro EP é inspirado em suas memórias e angústias, focando no processo empoderamento e de cura de feridas que carregou por muito tempo. Para Lubeka, “um artista em construção” nas suas próprias palavras, a música é como terapia. Sobre o EP comenta: “ele é bem visceral na questão da entrega, todo o processo foi muito difícil psicologicamente de traduzir em música”.

“[…] Eu encontrei minha essência e aprendi a valorizá-la. Quando realmente me aceitei enquanto LGBTQIA+, e me perdoei por erros que nem cometi, então aprendi a me amar, e estive pronto para ser amado, e isso tentei refletir nas faixas”

No início de 2020, após ter dedicado um ano à composição de músicas, Lubeka finalmente colocou as mãos na massa. Mas com a chegada da Covid-19, tudo ameaçou ser pausado, algo que ele não estava disposto a deixar acontecer, assim, retornou para o Brasil para dar continuidade à produção de seu sonho. Ele se orgulha de admitir que deixou o projeto dar os seus próprios passos e se fazer sozinho, de forma espontânea, sem seguir um conceito preestabelecido.

No conteúdo lírico, Lubeka aborda desde decepções amorosas como um homem LGBTQ+ até questões de raça, passando por um processo de empoderamento e auto aceitação. Ele conta que “Lubeka” era um apelido dado por sua família, mas que para ele era um lembrete desagradável de sua sexualidade. Assim, com a carreira musical, decidiu ressignificar o nome e abraçá-lo como sua nova identidade, declarando: “Para tudo que me trazia dor, eu queria trazer um pouco de luz”.

O músico tenta mostrar através da sua arte que ele conseguiu superar os preconceitos e repressões, de forma a inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo, ou pelo menos mostrar que isso é possível. “Eu queria contar histórias que fossem de verdade e que tivesse alguma pessoa que se identificasse com aquilo, nem que fosse só uma”, afirma. Ele entende que o momento político e histórico brasileiro é complexo, principalmente para as minorias, mas conta que vem adotando uma postura educadora, de forma a mostrar a sua realidade e usá-la como exemplo para desconstruir preconceitos no seu meio. “Tem gente que quer ir pra Marte, eu quero alcançar os corações das pessoas”, declara com um sorriso no rosto.

Lubeka conta que decidiu iniciar a divulgação em outubro do ano passado, com o single “Tarde Demais”, buscando lançar periodicamente novos singles para que o público o fosse conhecendo aos poucos. E apesar de tratarem de temas diversos, ele admite que buscou conectar todas as músicas sob um único conceito, para que os ouvintes também pudessem absorver o material final como um todo.

Em fevereiro, lançou o clipe de “Estática”, que mostra os bastidores das gravações através de uma lente preto e branco. Para o clipe de “Chances”, lançado em abril e gravado nos EUA, Lubeka se reuniu com Laure Courtellemont, coreógrafa francesa que já trabalhou com artistas como Ne-Yo, Daya Luz e IZA, mas que nesse caso ficou responsável pela direção do vídeo. Ele conta que ambos se entregaram completamente para o projeto, inclusive incluindo um dançarino diretamente da França, por meio de Chroma Key, detalhe que passa despercebido por muitas pessoas.

Sobre representatividade na música, Lubeka acredita que nunca estivemos tão bem, mesmo ainda distante de um cenário ideal. Ele comenta que o rapper Lil Nas X está começando um movimento que coloca a comunidade LGBTQ+ no mainstream norte-americano, fenômeno que é muito diferente no Brasil, que possui artistas como Pabllo Vittar. “No futuro vão enxergar o tamanho do impacto dela”, afirma, entendendo que a drag queen “é a nossa Madonna”, abrindo portas para cada vez mais artistas LGBTQ+. Ele ainda afirma que “sem Pabllo não existiria Lubeka”.

Nessa sexta (08), além do lançamento do EP que compila todos os singles, Lubeka também lançou clipe para a inédita “Intenso”, que nomeia o álbum. Apesar de ser a faixa mais animada do álbum e uma celebração de sua vida, o artista afirma que teve dificuldades para se soltar nas cenas de dança para o clipe, devido à repressão que sofreu na igreja durante sua infância: “No dia seguinte a gravação eu liguei para minha mãe e disse: ‘Foi muito triste o que eu vivi ontem, estou muito orgulhoso, mas foi muito triste, porque eu era a criança que só queria dançar e me expressar através da música’”.

Pensando no futuro, o goiano promete que vai trabalhar bastante o álbum, dando dicas de um possível relançamento Deluxe ou Remix. Além disso, ele pretende fazer a divulgação no Brasil, afirmando que já está começando os ensaios para o show de lançamento, que deve acontecer logo quando a pandemia estiver sob controle. Por fim, Lubeka documentou todo o processo de gravação do EP, mostrando todas as suas dificuldades e fragilidades em um documentário que deve sair em breve. Ele admite estar ansioso, já que todo o projeto estava pronto desde julho do ano passado e só agora está sendo lançado.

Capa de “Intenso”.

“Esse EP é a melhor forma de me apresentar, com todas as cores e tonalidades, timbres e sons possíveis. Sou intenso no amar, no sorrir, sou intenso no desejo e na raiva, intenso na vingança, intenso no sofrimento. Intenso quero ser, pois agora eu sou muito mais eu. Vivo, sofro, sorrio, dou a volta por cima e transformo tudo em música”.

Sobre o juker:

Pedro Souza é acadêmico de Jornalismo na UFSM e membro do Jukebox desde janeiro de 2021. Libriano caricato, seus gostos musicais vão desde shoegaze até pop farofa, mas ele nunca dispensa um indie. Apaixonado por Doctor Who, GTA III e X-Men, nas horas livres também é leitor e faz comidas de qualidade e sabor duvidosos.

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Jukebox 800

Programa musical na UniFM 107.9, da UFSM, produzido e apresentado por estudantes dos Cursos de Comunicação Social.